Macacos d’água
Livro reúne conhecimento sobre primatas que vivem em ambientes alagados ao redor do mundo. Organizadores comentam a relação dos animais com esses ambientes e como as pesquisas sobre o tema podem ajudar na conservação dessas espécies.
Macaco-de-cheiro
(‘Saimiri sciureus cassiquiarensis’) é uma das espécies que fazem uso
de ambientes alagados. (foto: Marcelo Ismar Santana / Instituto
Mamirauá)
Ambientes alagados são, de uma forma geral, ricos em biodiversidade. No entanto, ainda há muito o que investigar sobre a presença de primatas nessas regiões. “Estudos com primatas em áreas alagadas são muito difíceis de serem realizados, primeiramente por questões logísticas, mas também porque nem sempre é possível ter acesso a essas áreas no período de águas altas, o que limita a pesquisa”, justifica a bióloga Fernanda Pozzam Paim, pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e autora de um dos capítulos do livro.
Apesar disso, o que já se sabe é bastante interessante. A quantidade de espécies que fazem uso de tais ambientes é grande: inclui gorilas e chimpanzés no Congo, orangotangos em Bornéu e até saguis na Amazônia. “Algumas espécies visitam os ambientes alagados apenas ocasionalmente para explorar alguns recursos específicos, outras podem passar a vida inteira neles”, conta Adrian Barnett, biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e um dos três editores da publicação.
O uacari-branco (‘Cacajao calvus’) passa parte do tempo em florestas de várzea no norte da Amazônia, região periodicamente alagada por marés fluviais. (foto: Marcelo Ismar Santana / Instituto Mamirauá)
Em esforço inédito, a iniciativa reuniu pesquisadores de Brasil, Argentina, Guiana, Bolívia, México, Japão, Indonésia, Malásia, Estados Unidos, Inglaterra, África do Sul, Congo e Botswana, entre outros países. O livro vai apresentar dados sobre espécies que desenvolveram relações de dependência com ambientes alagados ao redor do mundo.
Em Pernambuco, por exemplo, os manguezais são fonte de ostras e caranguejos para os macacos-pregos da espécie Sajajus libidinosus. “Sem os martelos e quebradores que nós usamos para quebrar suas cascas e conchas, esses macacos usam peças de pau do manguezal para bater os crustáceos e moluscos até a carne suculenta ficar acessível”, explica Barnett. Já nas praias do sul do continente africano, babuínos frequentam as costas rochosas em busca de cracas e moluscos. No Japão, primatas da espécie Macaca fuscata – conhecida aqui como macaco-japonês – vão até a costa litorânea atrás das algas ricas em ferro e outros nutrientes que complementam sua alimentação.
Segundo o especialista, a preservação das áreas alagáveis é fundamental para a própria conservação dos primatas. “Algumas áreas estão realmente ameaçadas diretamente pelo desmatamento, como os manguezais de diversas partes do mundo”, alerta. “Outras estão sofrendo os impactos da mineração, como a acumulação de sedimentos e mercúrio, e outras, ainda, a extração excessiva de determinadas espécies vegetais”.
"Primatas
são muito queridos ao olhar do público, as pessoas em geral acreditam
que eles têm muito charme. Podemos usá-los como ‘espécies bandeiras’
para conservar os habitats – muitos deles em perigo".
Fonte: http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/3682/n/macacos_d'agua
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